sábado, 9 de abril de 2011

Memória volátil

Praticamente impossível ter um blog e não comentar a respeito do que aconteceu antes de ontem no Rio de Janeiro. Cenas realmente muito tristes. Crianças no seu porto seguro – escola – vítimas de um suposto psicótico com suas “melhores intenções”.

A partir de agora, podemos nos preparar para assistir a 143 entrevistas com psicólogos, psicanalistas, psiquiatras e familiares que tentarão esclarecer à população qual era o verdadeiro problema desse homem. Afinal de contas, merecemos uma explicação.

E, talvez, involuntariamente, esse genocídio se tornará parte do nosso cotidiano durante alguns dias. E de tanto falarmos a respeito acabaremos por deixá-lo cair no abismo dos assuntos triviais.

Triste mesmo é o que aconteceu no Haiti. Lá, o terremoto foi um dos menores males sofridos pela população. Mesmo diante de uma forte repressão política, cultural e social exercida por uma “dinastia”, nós continuamos a acreditar que o que aquele povo sofreu de verdade foi apenas o terremoto. E note que eu disse sofreu. Acreditamos que o que aconteceu já foi. Depois de aquela semana de todos preocupados com o Haiti, arrumamos outro fato que nos desse mais assunto para discussões e que fosse capaz de mascarar os nossos problemas pessoais.

Triste mesmo é o que aconteceu no Rio de Janeiro no começo do ano. Muitas pessoas ficaram desabrigadas e muitas perderam a vida por conta de um deslizamento de terra. Na época que isso aconteceu, todos ficamos preocupados em culpar as devidas pessoas, oferecer os socorros cabíveis e exigir as decisões responsáveis. Mas e agora? Será que o problema dessas pessoas já foi totalmente solucionado?

Triste mesmo  foi o que aconteceu no Japão. Vítimas de um ataque nuclear durante a segunda guerra-mundial e agora vítimas de um acidente nuclear. Triste mesmo foi o tsunami que aconteceu no ano de 2004 na Indonésia.

E a nossa curta trajetória na Terra vem sempre marcada por esses acontecimentos tristes.

Para essa nossa falta de memória eu vejo duas causas. A primeira delas é que temos a necessidade de que o fato se torne um filme para que ele fique na nossa lembrança. Com os exemplos do ataque de 11 de setembro e o documentário Tiros em Columbine. A minha outra hipótese, talvez mais relevante que a primeira é: o que aconteceu foi com o nosso vizinho e não com o nosso familiar. Com certeza para os familiares das vitimas de todas essas tragédias  choram a dor da perda até hoje.

Não nego a atrocidade que aconteceu no Rio. O que eu quero criticar aqui é o alarde que a sociedade e, consequentemente, a mídia dá para o ocorrido. Fazendo com que o assunto se torne, mais uma vez, comum.


Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas”
Faroeste caboclo – Legião Urbana

Por:  Daniel

Um comentário:

  1. É verdade , é tudo uma questão de tempo, a imprensa brasileira fica esperando acontecer algo para ter assunto em seus noticiários, nas hora de avaliar o "psico", do atirador de realengo aparecem mil "atras" e "ólogos" da vida, cada um cheio de "ses"e indagações que jamais serão respondidas visto que o protagonista, o alvo de estudos está morto. Por que não apareceu nenhum desses estudiosos que tem seus 15 min de fama, para ajudar esse rejeitado a cuidar de sua estima e feridas?É muito sensacionalismo e pouco respeito, muito ibope e pouco coração, se não chorar, não sai na TV.

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